Portuguesa, mas de ritmos e alegria brasileira de corpo e alma. Nasceu em Marco de Canaveses, mas foi a cidade maravilhosa que a viu crescer e que ela também viu e ouviu de forma tão próxima e atenta. A Lapa, seria esta a sua grande influência, a sua música, a sua cultura, as suas gentes, tão diversa e tão rica, despertavam nela o sonho de ser artista e marcaria a carreira da Pequena Notável.
Um ouvido atento, fez com que a sua voz chegasse ao carnaval, à rádio, e com isto os primeiros discos, as primeiras performances, os primeiros elogios e o sonho ia de vento em popa, levando-a além Brasil,a chegada aos EUA é triunfal. Estreia-se no cinema americano e tornava-se já na artista mais bem paga nos EUA (e talvez no mundo) no ano de 1946 – a Brazilian Bombshell.
Mas Carmen Miranda não é apenas penduricalhos ao pescoço e de frutas tropicais à cabeça, esse batom vermelho, brincos e pulseiras refletem uma personalidade bem maior, para lá da exuberância, aquela alegria genuína e “ganas” de chegar lá, de (se) valorizar.
Só aquela disponibilidade para mudar, experimentar, viajar é já uma singularidade, e que tanto aprecio. Pois tudo isso consegue ser um passo à frente do seu tempo, essa pré-disposição, aquela postura feminina, aquela musicalidade, aquele viver intenso e sem compromisso, tanto que até o casamento pode ficar para mais tarde. Isto é ser moderna.
Aquele jogo de melodias que, sem o saber ao certo, iniciava um processo na música popular brasileira, herdávamos o samba com o ritmo que conhecemos hoje. Aquele tropicalismo, as roupas, os ornamentos, os sapatos com plataforma que ela inventou e nunca patenteou e que ainda hoje fazem sucesso. Isto é ser visionária.
Torna-se a primeira cantora a assinar contrato com uma rádio, outro passo à frente do seu tempo, onde rádio e mulher não se misturavam, isso era um mundo apenas masculino. Um mundo que agora ganhava uma Rainha do Broadcasting Carioca. Isto é ser emancipada.
Primeira sul-americana a ser homenageada com uma estrela na Calçada da Fama, Carmen é presença constante em programas de rádio e televisão, em casinos, night clubs e teatros americanos, um ritmo de trabalho frenético que a deixa dependente de medicamentos (prática generalizada e até incentivada na Hollywood da época). Carmen que dizia ter horror de hospitais e que preferia morrer num acidente fatal ou num fulminante ataque cardíaco, morre a 5 de agosto, aos 46 anos, de enfarte.
E, depois de tudo isto, pensar que, por ser uma menina de origem portuguesa, pobre, conheceu o preconceito ao alcançar a fama cantando música “negra”.
~ carnaval e um chá tropical ~