“A ideia de felicidade não se vive. O momento de felicidade só é reconhecido mais tarde. Naquele tempo eu era jovem, um puto na força da vida. Hoje digo aos jovens, não tenham pressa. Mas esse é um tempo que recordo como um tempo de felicidade”.
A natação esculpia o seu físico. Atletismo e automobilismo, duas grandes paixões. Galã e boémio. Mas fora o cinema, a maior de todas elas. Com uma vida dedicada ao cinema, sua paixão era intrínseca.
A invicta, cidade que o vira nascer e na qual crescera, tornava-se senhora dos seus olhos e das suas lentes. Figurante aos 19, realizador aos 23.
Mais de 40 filmes marcam a sua carreira. Entre o cinema mudo e o cinema a preto e branco. Douro, Faina Fluvial. O seu primeiro filme despertava violentas reacções dos nossos críticos e elogios dos estrangeiros. Hoje considerado uma obra-prima. Aniki-Bóbó no cinema de ficção. Pinto e a Cidade, no cinema a cores, o primeiro em português e que desenhava o estilo Oliveira na história do cinema. O Velho do Restelo, o mais recente filme. “Não olho para o que fiz, Olho para o que vou fazer”.
Mais de um século de vida, um século de genialidade, de respeito e de aclamação. Manoel de Oliveira é figura ímpar na cultura contemporânea portuguesa, incontornável do cinema português e o mais (re)conhecido internacionalmente.
“Eu acho que não há país no mundo mais internacional, mais universal, do que Portugal. Portugal está aqui, mas está também em qualquer lado”.
Por falta de apoio financeiro muitos projectos ficaram na gaveta. Hoje, muitos deles ficaram na manga, apontava-se um filme sobre as mulheres e as vindimas e ainda a adaptação de “A Ronda da Noite”, de Agustina Bessa-Luís. O cineasta deixa ainda aquele que desejou que fosse o seu filme póstumo, de carácter autobiográfico, que por sua vontade explícita, só poderia ser mostrado publicamente após a sua morte – Visita ou Memória e Confissões.
Ontem, 2 de Abril de 2015, a morte do cineasta era notícia em Portugal e no mundo. O maior cineasta português. O mais velho realizador do mundo. Tinha 106 anos e uma energia que parecia inesgotável.
“É a minha casa. Continua uma cidade bonita, à beira-rio e à beira-mar. Eu nasci no Porto, cresci no Porto e continuo a viver no Porto. Até um dia. O dia que vem para todos”.
~ um chá e uma homenagem ~