Depois de alguns anos de um Porto sem identidade gráfica (falo em identidade, porque um logotipo não é uma identidade), sim porque aquele logotipo pouco ou nada traduzia aquela que é a cidade do Porto, uma cidade plural. E talvez tenha sido este o ponto de partida de tudo isto. Uma necessidade que não passou despercebido nem ao olhar de Rui Moreira, nem ao olhar dos criativos e designers que, em boa hora, reavivaram a cidade invicta.
Mas esta necessidade aponta ainda para um desafio maior. Não nasci no Porto, mas perto. Perto o suficiente para entranhar a sua essência. O Porto é uma cidade muito peculiar. Um tanto ou quanto romântica, onde as ruas não são paralelas, onde as fachadas não são todas iguais, onde o velho se cruza com o novo e o moderno faz torcer o nariz a alguns. Não é uma cidade perfeita (acredito que nenhuma o seja) mas vivesse como se o fosse, está nas entranhas da gente do norte. Ser tripeiro, ter sotaque e encarar a vida de forma positiva, como se a felicidade ali, fosse plena.
Tudo é diferente, mas tudo se integra e é este o desafio: criar uma imagem visual onde o diverso seja um único e transversal. E é nesta sequência que, em 2014, a Câmara Municipal do Porto apresenta a nova imagem, a nova marca, o Porto, o “Porto. Ponto.” A identidade gráfica desenhada pelo estúdio portuense White Studio é o resultado perfeito que sai em defesa dos valores, autenticidade e pluralidade de uma cidade como o Porto.
O projecto envolve um conjunto de pictogramas que representam os diversos elementos e lugares da cidade, construindo uma identidade completa e versátil que por si só enriquece a cidade e a sua comunicação enquanto marca. Um resultado funcional e simples, capaz de integrar de forma relacional e harmoniosa o que aparenta ser oposto e diferente. Agora tudo fala a mesma linguagem, o diferente consegue ser, também uniforme, existe um sistema visual, uma identidade global, uma cidade global. E por isso, a avaliação não pode ser isolada, se assim for nada têm lógica e nem serve o propósito deste projecto. Aqui as pequenas e simples coisas conjugam-se e comunicam de forma simples o que é complexo. Aqui o todo é maior que a soma das suas partes: A+B não é simplesmente (A+B), mas sim um C, esta é a leitura que deve ser feita desta identidade visual. E isto é mais significativo do que aparenta.
Mas a nova marca não foi alheia à controvérsia. Aquele logotipo. Aquele ponto. “Porto. Ponto.” que eu leio como elemento de personalidade e que como slogan, o Porto não se quer definido. O Porto é o Porto carago! ponto. Muitos não gostam outros não conseguem “ler”. A verdade é que resultado criativo, que para uns intrigou, é este ano distinguido pelos Prémios Brandemia como Melhor Marca Criada em 2014, sendo assim, a primeira marca portuguesa a obter um prémio Brandemia.
A nova imagem do Porto caminha ao lado da Brandal, distinguida como melhor agência de espanha/Latinoamerica e da Airbnb, distinguida como melhor marca internacional.
Esta nova imagem foi adoptada a todos os meios de comunicação institucionais da autarquia, com uma nova web, com um portal de notícias, com produtos de merchandising. Um conceito que, entre linhas modernas, não se desfaz (e ainda bem) do tradicional, dos costumes já que a mesma foi apresentada em através de um painel de azulejos pintados à mão. O azulejo, elemento tão português e que pintam as inúmeras fachadas da cidade. Uma identidade visual que espelha bem a cidade do Porto e que o potencia enquanto marca turística, têm capacidades para ser um ponto turístico e um ponto no design português além fronteiras.
O Porto é simples. O Porto é generoso. O Porto é diverso. O Porto é moderno. O Porto é azul (azul, destaco). O Porto está de parabéns.
~ um chá no ponto ~
p.s.: E, não que eu tenha alguma coisa contra o senhor, mas não foi necessário falar com o Sagmeister nem custos milionários, até aqui se vê a essência em ser tripeiro!