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Bullying: O pesadelo anunciado

O toque de intervalo soou na sala de aula. A angústia e o sentimento de rejeição apoderaram-se dela. Tinha apenas doze anos. Gostava de ler, de observar a natureza e de escrever. Era diferente e tímida. Mas elas, bem, elas eram todas iguais. Pelo menos em grupo. Em grupo as colegas de turma eram fortes (ou não seriam a mais fracas de sempre?). Lá, no segundo piso da escola, nada de mal lhe poderia acontecer. A campainha era o terror anunciado, com o som dos passos apressados pelas escadas abaixo. Mais uns minutos de tortura psicológica. Ela sentia-se bloqueada, numa luta que não lhe deveria pertencer. Uma disputa de muitas para uma só.

Havia uma líder, que escondia fraqueza num ar superior. Todos os dias se reunia com a matilha e focava toda a atenção na mesma presa. No fim, a rapariga de olhos cabisbaixos ia para casa e fechava-se no quarto. Escrevia no diário e chorava. Não havia esperança. Todos os dias eram iguais. Humilhação e exclusão por parte dos colegas. Afinal, fazerem parte da matilha para não serem as presas, era o caminho mais fácil.

Ela não percebia a maldade daquelas miúdas. Mas, um dia acordou e bateu o pé. Deu um golpe de coragem e resolveu mudar de vida. Contou aos pais e aos professores o quanto estava a sofrer. A revolta da matilha foi incalculável. Sofreu ainda mais. Todos os dias queria desaparecer. Teve a sorte de ter bons pais por perto. Os pais das agressoras não acreditavam. “Afinal, como é que a minha filha faz algo do género?”. Mas fazem, sabem? As vossas queridas filhas não são santas. E a culpa é vossa, porque não lhes transmitem os valores certos. A culpa é da vossa falta de atenção com elas.

Estamos a falar de pessoas da futura sociedade. E quanto aos professores: pretendem continuar a formar mentes inúteis? Formar egos que só existem rebaixando egos alheios? Vão apenas despejar mais matéria formatada, veiculada nos livros, ou vão ensinar valores cívicos? Ajudem estes jovens a encontrar um caminho onde a força não seja usada contra os outros.

Essa menina, de olhos curiosos, que pensava muito sobre o mundo, mudou de escola. Fez novos amigos. Saiu fortalecida. Percebeu que não pertencia à matilha por ser diferente e ter uma vida especial por descobrir.

O vídeo que está a circular pelas redes sociais e na comunicação social tem sido alvo de comentários por parte de muitas pessoas, sem a mínima noção do que é o bullying. Muitas nunca foram todos os dias para a escola com as pernas a tremer e as lágrimas guardadas em páginas de um diário. Só sabem a teoria. Que tal partirem para a ação? Que tal entenderem que os dois lados da moeda necessitam de ajuda? Quem agride tem necessidade de atenção. Quem é agredido, precisa de carinho. E quem agride também. Precisam de alguém que lhes dê a mão. Que mande uma palmada na mesa.

Aquela menina teve o carinho de uma família estruturada. Outros meninos podem não ter. Vamos permitir que uma vida que ainda mal começou seja miserável? Que uma auto estima ainda em formação leve ao suicídio? Parem de falar sem saber. A solução está dentro das vossas próprias paredes. Cuidem dos vossos filhos, transmitam-lhes amor e carinho. Mostrem-lhes que eles valem mais do que pensam. E, caros professores, não foquem tanta atenção em critérios banais. Observem, transmitam valores de companheirismo e de igualdade.

A campainha voltou a tocar. Saiu pelos portões da escola aliviada por menos um dia aterrorizante. Ela, a quem que lhe chamavam de anti social, “tam-tam” e outras agressões de carácter psicológico, hoje é confiante e comunicativa.

A menina que trazia sempre um livro debaixo do braço e que suava quando a campainha da escola tocava, ela sim, sabe hoje o verdadeiro significado da palavra bullying. Vão continuar a comentar sem saber? Ou vão começar a tomar atitudes?

Vão apenas promover campanhas de sensibilização? Ou que tal começarem na vossa própria casa, na vossa própria sala de aula?

Menos palavras, mais ação. Pensem nisso.

~Um chá de reflexão ~

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