Quando a vida te faz uma rasteira e transforma tudo aquilo que imaginaste para ti, numa miragem é o momento em que sabes que a tua ilusão de controlo, é apenas isso, uma ilusão.
A energia flui-me nas veias, sempre fluiu, a Duracell ao pé de mim era uma amadora. Os meus objectivos estavam traçados e o que eu queria ser era o motivo de trabalho, luta e dedicação. “O comando era meu” – pensava eu na minha ingenuidade confiançuda.
Até que o momento das escolhas aconteceu. 3 Caminhos possíveis:
– o diferente, ousado e solitário
– o que sempre sonhei, mas que me obrigava a uma distancia que esmagava o meu coração
– o amor, algo inesperado, viagens e a incerteza de um preenchimento profissional
Escolhi o amor, claro! Sou feita de emoções, tenho o coração na boca e sinto tudo à flor da pele. Foi uma escolha ponderada, mas deste do primeiro momento, no fundo, eu já tinha escolhido.
Seguiu-se a agitação da mudança, a novidade, o conquistar do desconhecido e a beleza de um mundo novo. Sempre estive habituada a lutar e a querer mais, precisava destas ferramentas para sobreviver.
Veio a paz! A paz de espírito, o conforto emocional e financeiro, as viagens que eu sempre sonhei… Todo o universo se uniu para me satisfazer. Então, mas por que razão eu não estou preenchida? Porquê que me sinto à beira de ataque de nervos e a angústia não me larga?
Chegaram os ataques de pânico, a vontade de desaparecer, a insegurança nas escolhas do passado e o desconforto de me sentir tão confortável… Estou louca, pensava eu! Deixei de pensar, deixei de escrever, deixei de gostar do que me fazia bem, a minha vontade de estar com pessoas passou a vontade me esconder debaixo da manta.
Neste momento, pensei que tinha perdido a minha identidade e que tudo o que conhecia e sabia se desvaneceu num conjunto de sensações de terror.
Sou uma guerreira, lutar faz parte de mim, a permanente insatisfação dá cabo de mim, mas torna-me mais forte e com vontade de fazer mais, de ser mais. O amor é tudo sim, mas descobri que faz parte do amor, estarmos bem com o que fazemos, com o que somos e com a maré da vida. O típico “deixa andar” não é para mim, deixa-me com um burburinho interior que me tira a respiração.
Como muitos guerreiros, terminada a guerra, a adaptação ao período de paz e conforto pode ser difícil. Para mim foi. O trauma pós-guerra aconteceu e ainda faz mossa de vez em quando. Mas hoje, pela primeira vez em alguns meses, senti vontade de escrever, de mostrar que estou viva e que, apesar da minha hibernação, estou despertar!
Alinhar na corrente da vida não é necessariamente mau, não temos que lutar sempre contra a maré, não temos que ser sempre diferentes… Temos apenas que ser nós e colher da vida aquilo que ela nos dá. Tomar as rédeas, mas permitir que sejamos guiados pelo caminho…
Viver e ser, é uma aprendizagem constante, nós mudamos, os nossos gostos mudam. As pessoas que estão à nossa volta, são o que nos dá força e que nos faz olhar para a frente com um sorriso.
~ A vida é feita de pessoas, por isso, a minha vida é a mais rica! Obrigada ~