Há momentos em que o mundo nos parece desabar. Parece que tudo nos foge dos pés. O sol que antes tanto brilhava, talvez por uns tempos pareça não existir. Deixamos de acreditar nas pessoas e na justiça. Abrimos os noticiários e todos os dias vemos centenas de crianças a morrer subnutridas do outro lado do mundo e as constantes lutas religiosas que matam milhares de inocentes.
Olhamos para nós próprios e, muitas vezes, questionamos o propósito dos nossos dias frios. Muitos amigos afinal não são amigos. Pessoas entram e saem da nossa vida constantemente. E muitas daquelas que mais amamos acabam por morrer. Esquecemos-nos que os momentos mais simples são os mais importantes. Um abraço pode não ser só um abraço. Pode ser o último. Um beijo na testa pode nunca mais se repetir. Tudo é fugaz. Nada dura para sempre. Cada momento nos ensina e nos transmite lições. Mas, tal como defendia o célebre Fernando Pessoa, limpar a casa e sacudir a poeira nem sempre parece tão fácil assim. O nosso coração parte-se. O nó na garganta fica. Dizem que o tempo cura qualquer dor, mas as cicatrizes perpetuam-se no tempo.
Contudo, quase sempre, continuamos a fingir que somos felizes. Estampamos um sorriso que chora por dentro. Esquecemos-nos de nós próprios. E não questionamos o mundo. Só quando nos acontece algo que abala a nossa existência, colocamos tudo em questão. As pessoas, as aparências, o egoísmo, a crueldade humana. Porquê tudo isto?
No fundo, sabemos que nunca vamos ter todas as respostas, mas algumas vão surgir. Descobriremos que após o céu cinzento, sempre surge o arco-íris. Tornamos-nos pessoas mais sábias, mais intuitivas, mais cuidadosas, atentas e a querer estimar quem queremos por perto. Porque, no final de tudo, o que nos resta são as memórias de quem partiu. Somos seres de gente. E neste mundo há gente inesquecível e histórias que nos marcam a alma para sempre.
Que tenhamos a coragem, durante breves instantes, de viver por baixo da tempestade. Ela passa e nós sobreviveremos. Eternos guerreiros de nós próprios.