Os dias 25 e 26 de Novembro foram chuvosos e frios, mas nós nem notámos, percorremos a avenida da Liberdade de teatro em teatro, de sala de espetáculo em sala de espetáculo e nem os pés molhados e as mãos frias nos fizeram parar, o Vodafone Mexefest foi bom e recomenda-se.
Eram 10 salas, mais de 40 concertos e um leque vasto de artistas e estilos musicais para desfrutar em dois dias. Mais do que nunca, desejamos ser omnipresentes e poder ir e “estar” em todos, mas sabíamos de ante mão que isso não ia ser possível. Quisemos aproveitar os concertos ao máximo e perder o menos tempo possível e por isso fizemos uma pré-seleção do que iríamos ver e traçamos um caminho.
O nosso primeiro dia de festival começou com aquela excitação miudinha de quem deseja abanar o esqueleto ao som de boa música e nunca mais vê a hora “disso” acontecer. O Check-in aconteceu sem problemas, sem filas nem confusões e sem darmos conta voámos para o capitólio que não conhecíamos, mas num instante o descobrimos.
O primeiro concerto foi Valas, um rapper de Évora que começou agora a dar que falar com o seu primeiro single “As Coisas”. Potencial não lhe falta e talento também não, iremos de certeza ainda encontra-lo em grandes palcos.
Ainda no capitólio, espaço que nos surpreendeu pela sua polivalência, assistimos ao concerto de Mike El Nite, sendo que foi Nerve quem deu os primeiros acordos. Valeu a presença da Capicua como convidada especial, tudo o resto não nos convenceu.
Saímos 10 minutos do capitólio e íamos perdendo Talib Kweli que “mandou” o capitólio a baixo. Tudo nele cativa, as músicas, os gestos, até quando só fala e falou bastante. O público estava vibrante, quem não conseguiu entrar, assistiu de fora, mas nós felizmente vimos tudo de perto e não perdemos “pitada”.
Antes de deixarmos o capitólio, ainda dêmos um olhinho em Diamond, o som era bom e prometia um concerto “à maneira” mas o Teatro S.Jorge esperava-nos.
CEU, oh ceu que concerto fabuloso. Ainda hoje não conseguimos esquecer o timbre doce da tua voz e as músicas que nos embalaram e deixaram o tempo passar sem darmos por isso. As musicas são leves, as letras são suaves e ficam no ouvido, o corpo quer balançar constantemente. Não é à toa que já és considerada uma das melhores autoras da música brasileira. Felizmente, tivemos oportunidade de te conhecer e de registar o momento.
O primeiro dia já ia longo, mas faltava a cereja no topo do bolo. Voámos até ao coliseu e terminámos o dia em grande, ao som de Jagwar MA que encheu o coliseu e mesmo quem ainda não tinha abanado o capacete deu por si a abanar o corpo inteiro. As batidas e os ritmos eram contagiantes e era impossível estar parado. Mesmo tendo escolhido Lisboa para o fim da sua tour, Jagwar não mostrou cansaço e “deu tudo”.
A expectativa para o segundo dia era alta, queríamos ir aos locais onde ainda não tínhamos conseguido ir e aproveitar o máximo de concertos possíveis. Fizemos o aquecimento com Meg Baird na Sociedade de Geografia de Lisboa. Não consigo imaginar local mais perfeito para aquela voz melancólica e fina. O espaço é maravilhoso, o público faz “silêncio sepulcral” e a voz da Meg percorre a sala, os nossos ouvidos e chega mesmo a tocar-nos a alma.
Logo que o concerto acabou, mudámos de sala, mudámos de registo, mudou a sonoridade mas a qualidade manteve-se. Gallant encheu o coliseu de boa música, encheu o palco com os seus movimentos acelerados e encheu os nossos corpos de ritmo. A revelação deste Mexefest não só cativou, como deixou marca. Saímos ainda a cantar, com uma vontade imensa de ficar.
Retomámos a marcha, desta vez a caminho do Tivoli BBVA para ver Malu Magalhães e foi aqui que a nossa rota se alterou, a fila era tão grande, chovia tanto que decidimos quase em simultâneo procurar abrigo no teatro S.Jorge.
Quando entrámos na sala nem queríamos acreditar, fomos completamente surpreendidas pela Sara Tavares, que como sempre, deu um concerto memorável com ritmos quentes vindos diretamente de Cabo verde, ficamos agradecidas pelo seu Balancê e pela forma como foi cumprimentando o público que saía e entrava constantemente.
Ainda faltavam alguns minutos para o concerto de Mayra Andrade, mas fizemo-nos à estrada a caminho do capitólio.
Mayra Andrade não era de todo uma surpresa, já conhecíamos o seu talento, a sua musicalidade misturada com crioulo e leveza na voz. Quando já ninguém esperava mais nada, Mayra Andrade com a sua modéstia e humildade natural, confessou não ter nada preparado para o caso do público pedir “mais” e ofereceu-se para cantar à capela, foi sem dúvida um dos momentos mais marcantes deste Mexefest. A sua voz e a mensagem de que o tempo passa milagrosamente e que nos cura das mágoas do passado, deixou o público rendido.
Seguimos para o coliseu com a promessa de a voltar a encontrar lá juntamente com Branko que fechou o Mexefest com chave de ouro. O coliseu encheu como já era esperado e fomos inundados com as batidas rítmicas, absolutamente contagiantes. Mayra Andrade surgiu no fim do concerto e mostrou mais uma vez o ar da sua graça.
Despedir-nos do Vodafone Mexefest foi difícil, queríamos mais, pelo menos mais um dia, porque ficaram salas por visitar, salas que só temos oportunidade de ver no Mexefest, ficaram por assistir concertos de bandas e pessoas que certamente nos iriam surpreender.
O evento decorreu sem grandes problemas, tirando uma ou duas filas que nos atrasou ou que nos fizeram mudar de rota. Até capas para a chuva nos deram, só não conseguimos provar a boa da bola de Berlim e o chocolate quente.
“Fazemos uma vénia” à capacidade de ter numa rua uma diversidade musical de tão boa qualidade em salas tão diversas. A originalidade na sinalética e as dinâmicas realizadas numa tentativa de integrar os cidadãos e os visitantes da cidade de Lisboa é de génio.
Melhor do que ter estado neste Mexefest , será voltar a estar presente no próximo!!! We hope so!!!
~um chá dançante ~