Um destes dias, ouvi uma rapariga no metro a falar ao telefone, tão alto que ouvi a conversa toda. Estava empolgadíssima com o novo horário escolar, principalmente com as tardes livres de Quarta e Sexta, com os professores que lhe tinham calhado (referiu gostar de quase todos), as disciplinas pareciam interessantes, só não tinha ainda encomendado os livros (mas isso era o menos importante).
Ai que saudades, que saudades tão grandes de ter a vida escolar como única preocupação. Que saudades tão profundas da expectativa do início do ano, do horário, das disciplinas novas e dos professores. Acima de tudo, que saudades imensas da ilusão de acreditar que iria acabar os estudos e teria uma profissão de sonho à minha espera.
Deixei esse mundo há cerca de 3/4 anos porque o mestrado não conta. Quando acabei a licenciatura, o mundo dos adultos revelou-se negro, procurei emprego durante meses, mas foram necessários apenas alguns dias para perceber que tinha escolhido o curso errado e que apesar dos professores me terem vendido a ideia de que era um bom curso, não ia conseguir ganhar mais do que 500€ mês.
Decidi ir para mestrado numa tentativa de mudar de área, de dar continuidade aos estudos e de investir mais na minha formação. O primeiro emprego que tive ainda durante o mestrado, foi um estágio profissional, porque hoje em dia 70% (e estou a ser boazinha) das ofertas de trabalho são estágios profissionais.
Fui explorada até mais não, horas e horas muito para além do que era suposto. Aprendi e cresci imenso mas em troca tinha que prescindir do meu subsídio de alimentação e ficar meses sem receber porque a empresa sem o dinheiro (mama) do IEFP não tinha como me pagar.
Mas tudo bem, a “malta” aguenta porque é currículo, porque não tem experiência, porque precisa crescer profissionalmente, porque não tem contactos, blablabla.
Até aqui tudo bem, não fosse o meu segundo trabalho também ser “supostamente” mais um estágio profissional, que nunca chegou a acontecer por questões legais da empresa. Estive aproximadamente um ano a receber pela “porta do cavalo” sem descontos e com a promessa permanente que iriam regularizar a situação.
Todas as semanas me faziam acreditar, que se desse provas à empresa de ser competente e de merecer ficar que iriam acabar por me contratar com “boas condições de trabalho”. As “boas condições “para alguém que estuda 17 anos da sua vida e que começa a ter alguma experiência de trabalho é receber no mínimo 1.000€. Mas até então nunca tinha recebido mais do que 650€ (máximo).
Hoje em dia vou no terceiro trabalho, as condições de trabalho melhoraram ligeiramente. Mas a lenga lenga não muda: dar provas, dar horas à casa, mostrar que mereço ficar, mostrar que sou eficiente e então um dia (suponho que muito longínquo ou imaginário ou mesmo inexistente) terei um contrato com “boas condições de trabalho”. Ainda tentaram mais uma vez jogar a carta do “Estágio Profissional” mas essa já não pega.
Das pessoas que conheço da minha geração (e são muitas, porque o facebook aumenta todos os dias o nosso leque de amizades) contam-se pelos dedos de uma mão (uma mão com poucos dedos) os que têm uma vida profissional estável.
Oiço todos os dias que a minha geração “não quer é fazer nada e viver para sempre à custa dos pais”. Imagino se toda a gente quisesse trabalhar… não havia IEFP que desse conta nem mercado de trabalho suficiente para dar “despacho” às fornadas de licenciados que saem todos os anos das universidades.
Arranjar emprego sem ser estágio é missão praticamente impossível e se não tiver características de pró-atividade, espírito de iniciativa e eficiência que não se aprende em lado nenhum, bem pode enviar CV´S.
A minha geração é a “Geração Estágio Profissional”, é a geração que faz estágios atrás de estágios, vive numa constante de dar provas e de se sacrificar em prole de uma independência pessoal e profissional, de uma vida com “boas condições de trabalho” que provavelmente chegarão, quando já não houver condições físicas nem mentais para as gozar.
~um chá de manifesto~